quinta-feira, 21 de março de 2013

DIA MUNDIAL DA POESIA - 21 de Março de 2013


Aconteceu poesia

A poesia não é tão rara como parece.
Na mais ínfima das coisas
A poesia acontece.
Aconteceu poesia
Quando nos teus olhos cor do céu
Vi um pedaço de céu que me cabia.
Aconteceu poesia
Quando as tuas mãos numa carícia vaga
Moldaram no meu rosto ar de angústia
Que o tempo não apaga.
Aconteceu poesia
Quando nos teus olhos cor do céu
Vi um pedaço de céu que me fugia.
Até no dia em que morreste, Mãe,
Aconteceu poesia.


Fernando Vieira

DIA MUNDIAL DA POESIA - 21 de Março de 2013

 

RESOLUÇÃO

agora escreve um poema bonito.
e daqui a pouco
olha para uma coisa desagradável.
agora constrói uma janela no poema
com vista para uma coisa compreensível.
vale a pena olhar.
o tempo aqui é instrutivo,
os olhos parecem formar um outro limite, um
limite mais elegante, sem pausas
e que se autotranspõe.
agora a sua profundidade afunda-se em ti.
os teus olhos alcançam a segurança
de um videopoema, as imagens
contêm as ilusões do mundo
e ainda se propõem à sua adolescência.
agora é tudo muito confuso,
a resolução das coisas nunca foi tão nítida.


Sylvia Beirute

sexta-feira, 8 de março de 2013

DIA INTERNACIONAL DA MULHER - 8 de Março de 2013


Por um mundo maior

Fui dar uma espreitadela na lista de dias mundiais e internacionais. São, por norma, uma chamada de atenção para a desigualdade, para a necessidade de auxílio, para nos darmos conta de problemas ou de doenças. Portanto, o facto de ainda haver um dia internacional da mulher, significa que ainda existe discriminação de géneros e que as mulheres ainda são tratadas com diferença. Fico pasma ao olhar para a História e perceber que temos direito ao voto há menos de um século, que sempre fomos consideradas seres inferiores e, pelos crentes, desprovidas de alma. E fico triste, por perceber que hoje em dia, por todo o mundo, há mulheres que continuam a ser vítimas de sociedades predominantemente machistas, que são abusadas, castigadas e que não têm direitos. Um mundo que não considere todas as pessoas iguais em direitos, que não respeite as diferenças (quando realmente existem), que não trate com bondade, gentileza e respeito todas as outras espécies, ainda é um mundo menor.


Missanga

terça-feira, 5 de março de 2013

3º Aniversário de "O Filósofo e o Fanfarrão" - Provocatio

Depois de mil dias, mil imagens e mil textos publicados, o Filósofo e o Fanfarrão vão de férias.


O exercício da contestação, pelo humor e pela razão, segue dentro de momentos (de crise)...

Com o devido abraço de gratidão aos nossos imprescindíveis leitores:

Até sempre!


O Editor

sábado, 2 de março de 2013

Crónica Benzodiazepina

 

Os Portugueses e a Síndrome de Estocolmo 

Ouvir cantar novamente a canção “Grândola Vila Morena” impediu-me de acreditar que o povo português estava a sofrer claramente da Síndrome de Estocolmo.
Tal como acontece com as vítimas de Estocolmo, também muitos portugueses pareciam estar a criar laços afectivos com os próprios políticos raptores.
A relação actualmente existente entre os nossos (des)governantes e o povo é uma relação de total e severo desequilíbrio de poderes.
Esta cambada de ditadores da nova era que passo a designar como “políticos raptores” ditam aquilo a que o “povo prisioneiro” pode ou não fazer.
Roubam-nos os sonhos, roubam-nos os amigos, roubam-nos os direitos adquiridos, roubam-nos, roubam-nos, roubam-nos!
O não cumprimento das tão famosas metas impostas pelos políticos raptores estão a levar uns ao suicídio, outros ao desespero e outros a graves danos físicos.
E nós, prisioneiros desses políticos raptores e das suas medidas, começamos a desenvolver o instinto de auto preservação.
Está escuro e estamos em casa com os olhos colados na televisão.
O silêncio é total. De repente surgem novos dados referentes ao número de desempregados e…
A porta bate repentinamente. A respiração acelera. O coração dispara. Os músculos enrijam.
Mas, pronto, ainda não é desta que somos nós…
Afinal o barulho que ouvimos na nossa porta não era o desemprego a atingir-nos! Não era o vento!
Está em jogo a vida das pessoas.
Por favor percebam de uma vez por todas que é a vida das pessoas que está em jogo!
A continuarmos assim, primeiro seremos reduzidos à pobreza. Depois farão de nós o que bem lhes aprouver.
O descrédito pela política que se vive neste momento é devidamente assumido por todos e por cada um de nós.
Todos os dias aguardamos que seja parida mais uma torrente de medidas que só nos desiludem e nos afogam.
É, no mínimo, macabro o projecto do governo para cortar, de uma penada e com consequências trágicas para todos os portugueses, os 4 mil milhões de despesas públicas.
Os nossos “raptores políticos” são uma cambada de interesseiros e manipuladores que têm refinado o seu comportamento ao longo dos meses, sempre na sombra dos senhores da troika, outros raptores, ampla e sobejamente conhecidos pela perversidade das medidas drásticas nos impõem sem dó nem piedade.
Eu não sou saudosista. Mas confesso que me entristece profundamente saber que em tempos desvendámos o mundo e que actualmente somos uns "paus mandados".
Sim, uns "paus mandados" de um trio que impõe medidas com um total desprezo pelas obrigações sociais dos nossos, das normas sociais, incapazes de qualquer afecto duradouro, especialista em racionalizar e culpar os outros.
O estado a que se chegou neste país só pode ser fruto de um grande transtorno de personalidade dos nossos “raptores políticos” e do trio perverso que nos impingiram, que com a sua capacidade de sedução nos permite encontrar explicações plausíveis para todos os seus actos, mesmo os mais torpes. Genericamente reina a desinformação e a confusão e por vezes fica a sensação de que entre os raptores políticos e as suas vítimas até existia uma verdadeira relação de cumplicidade.
Mas ao ouvir novamente cantar “Grândola Vila Morena” fica a esperança de não nos termos deixado apanhar pela síndrome da Estocolmo!


Maria Paula Elvas

sexta-feira, 1 de março de 2013

PALAVRA EXPERIMENTAL (XVIII)

 

Vê-los passar

Numa outra ocasião, sentámo-nos num daqueles conjuntos de mesinhas e cadeiras que coxeiam e que estão à beira de estrada, onde se pode beber um refresco e ver pessoas com sacos de plástico, a passar. Dali podem-se apreciar automóveis. Ouvir a sua maquinaria inteligente, uns para lá, outros para cá...

"Nunca conduzi um automóvel", comentou Bristol, emocionada. E explicou-me detalhadamente o quanto detestaria ter de o fazer.
"Mas sei bem que os automóveis não são todos iguais", disse ela, ao que acrescentou entre parênteses: "(talvez até por isso...).  Nada mais ingénuo e desprevenido do que considerar que os automóveis são todos iguais."


Iolanda Bárria