sábado, 2 de março de 2013

Crónica Benzodiazepina

 

Os Portugueses e a Síndrome de Estocolmo 

Ouvir cantar novamente a canção “Grândola Vila Morena” impediu-me de acreditar que o povo português estava a sofrer claramente da Síndrome de Estocolmo.
Tal como acontece com as vítimas de Estocolmo, também muitos portugueses pareciam estar a criar laços afectivos com os próprios políticos raptores.
A relação actualmente existente entre os nossos (des)governantes e o povo é uma relação de total e severo desequilíbrio de poderes.
Esta cambada de ditadores da nova era que passo a designar como “políticos raptores” ditam aquilo a que o “povo prisioneiro” pode ou não fazer.
Roubam-nos os sonhos, roubam-nos os amigos, roubam-nos os direitos adquiridos, roubam-nos, roubam-nos, roubam-nos!
O não cumprimento das tão famosas metas impostas pelos políticos raptores estão a levar uns ao suicídio, outros ao desespero e outros a graves danos físicos.
E nós, prisioneiros desses políticos raptores e das suas medidas, começamos a desenvolver o instinto de auto preservação.
Está escuro e estamos em casa com os olhos colados na televisão.
O silêncio é total. De repente surgem novos dados referentes ao número de desempregados e…
A porta bate repentinamente. A respiração acelera. O coração dispara. Os músculos enrijam.
Mas, pronto, ainda não é desta que somos nós…
Afinal o barulho que ouvimos na nossa porta não era o desemprego a atingir-nos! Não era o vento!
Está em jogo a vida das pessoas.
Por favor percebam de uma vez por todas que é a vida das pessoas que está em jogo!
A continuarmos assim, primeiro seremos reduzidos à pobreza. Depois farão de nós o que bem lhes aprouver.
O descrédito pela política que se vive neste momento é devidamente assumido por todos e por cada um de nós.
Todos os dias aguardamos que seja parida mais uma torrente de medidas que só nos desiludem e nos afogam.
É, no mínimo, macabro o projecto do governo para cortar, de uma penada e com consequências trágicas para todos os portugueses, os 4 mil milhões de despesas públicas.
Os nossos “raptores políticos” são uma cambada de interesseiros e manipuladores que têm refinado o seu comportamento ao longo dos meses, sempre na sombra dos senhores da troika, outros raptores, ampla e sobejamente conhecidos pela perversidade das medidas drásticas nos impõem sem dó nem piedade.
Eu não sou saudosista. Mas confesso que me entristece profundamente saber que em tempos desvendámos o mundo e que actualmente somos uns "paus mandados".
Sim, uns "paus mandados" de um trio que impõe medidas com um total desprezo pelas obrigações sociais dos nossos, das normas sociais, incapazes de qualquer afecto duradouro, especialista em racionalizar e culpar os outros.
O estado a que se chegou neste país só pode ser fruto de um grande transtorno de personalidade dos nossos “raptores políticos” e do trio perverso que nos impingiram, que com a sua capacidade de sedução nos permite encontrar explicações plausíveis para todos os seus actos, mesmo os mais torpes. Genericamente reina a desinformação e a confusão e por vezes fica a sensação de que entre os raptores políticos e as suas vítimas até existia uma verdadeira relação de cumplicidade.
Mas ao ouvir novamente cantar “Grândola Vila Morena” fica a esperança de não nos termos deixado apanhar pela síndrome da Estocolmo!


Maria Paula Elvas

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