quarta-feira, 26 de dezembro de 2012


Postais

Lembro-me de receber postais de boas festas . Postais com brilhos, postais com renas e neves , postais com fogo de artificio e desejos . Eles vinham enfeitar as minhas mãos cansadas, fazer sorrisos no espaço onde os abria, colmatar falhas do ano, deixar no meu canto, riqueza de vida. Nem todos eram escritos com a meiguice da época ou a simpatia genuína de quem gosta de enviar. Mas todos eles se arrumavam em mim, como pedaços de quentura no frio de Dezembro. Pena que os postais estejam a morrer nas papelarias. Pena que as caixas de correio já não sintam o latejar das boas festas e aquelas frases simples, em escrita nem sempre linear , já não espalhem calor de gente dentro de nós. Porque não há como receber uma carta, receber um postal e sentir que, algures, aquele ser que nos enviou a mensagem esteve perto de nós , quando escolheu o postal, quando nele esboçou seu gesto em vocábulos, quando o enviou e quando, na demora da resposta, nos pensou. Às vezes basta um mero toque de palavras. E a ternura é nossa.


Laura Silva

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