terça-feira, 11 de setembro de 2012

Palavras Versadas


segundo esquerdo

fecho os olhos
— ninguém em redor para me ouvir chorar.

transformei numa casa impenetrável as palavras mais silenciosas
que encontrei pelo caminho
ou que me escolheram
abrindo-me
portões pesados
rangendo o seu cancro de metais brilhantes
incandescente
solidificados numa sebe áspera e escura
uma fome opaca
de tão espessa impossível de se ouvir
menos ainda ver para dentro

agora paro,
paro de sonhar com ruas a que não pertenço
paro de inventar vizinhos com vista para o coração em ruínas
assumo finalmente o sangue a entupir
o escoamento do terraço
assumo as vertigens da loucura panorâmica
o desespero imóvel da vida
paro de chorar
e admito
que no lugar que habito não existem
áreas comuns

o meu prédio é a solidão
segundo esquerdo


Renato Filipe Cardoso

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