quarta-feira, 5 de setembro de 2012


As estações só existem fora de casa

Com esta idade, ainda não sei dizer qual a estação do ano de que mais gosto. Isto pode dizer muito de uma pessoa. Gosto das quatro como as conheço. São belas e à sua maneira todas conseguem ser insuportáveis. Não há ninguém que maldiga das chuvas de Verão. Sabem tão bem. Há tempos ouvi maltratar a Primavera, porque lhe despenteava os cabelos e pingava quando não se está à espera... O Outono é doce, é a estação da marmelada e da geleia de marmelo, mas às vezes isso enjoa. Gosto da secura do Verão, é difícil o Verão e isso cheira bem, mas não imagino ninguém a escrever poesia ou filosofia no Verão. Como são deliciosas as sombras do Verão. O Inverno sabe muito bem em duas ou três situações: logo no início e quando se está fora dele, ou o vemos passar à janela. Gosto da expressão 'os rigores do Inverno' e parecendo o contrário, é uma estação muito calorosa. Custa-me um bocadinho grafá-la sem maiúscula, é a que mais me custa. Lembro-me de ir para a faculdade de gola alta e casaco e agora há ar condicionado em todo o lado.Quem se atreve a usar gola alta, fora das estepes da Mongólia? A verdade é que as estações quase só existem na rua. Vivem pelas ruas, sem abrigo, que é como deve ser, mas é uma perda não as deixarmos entrar pela casa, nem nas casas por onde andamos, nem nos carros ou nos transportes. Ficam à porta. Saímos da rua e mudamos para um ambiente que não é nada, porque não é o morno ou o fresco que fazem as estações. A temperatura é apenas o mote. Entra, Verão, entra! Bebes alguma coisa? Quero que te sintas em tua casa!


Iolanda Bárria

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