sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A CAGADA DE BAIXO - BLOGONOVELA EM CINCO EPISÓDIOS (I)


A CAGADA DE BAIXO

I
 
Trabalhei em Agosto. Foi um mês produtivo. No entanto, não gosto de Agosto, fico a contragosto. Nem de Julho: muito calor, muita gente nas praias. Por isso, este ano, mais uma vez, fiz férias em Setembro e fugi para sul, na procura de um lugar à beira do mar. Adoro praia, praias. Esta sim, a praia é a minha praia. Ir à praia e ficar do lado de fora de uma barraca de pano, daquele pano às riscas, aproveitando a sombra dos outros. Um pano alegre para um verão alegre.
Ora, estava eu, numa praia alegre cheia de pessoas ociosas, a curtir a minha alegria à sombra dos panos riscados da vizinhança, quando me cheirou a merda. Tinha-me sentado em cima dela...

Antes de mais, convém explicar que, às tardes, a barraca de riscas alegres era habitada por uma família inteira, a qual vos vou apresentar, de cabo a rabo:

O cabo Sousa, o avô, o senhor Sousa, era reformado da GNR, tinha sido casado e agora era viúvo. Um eterno admirador do "senhor professor" e da “brigada do reumático”, limitava-se a defender os valores do “tempo da outra senhora”, do tal “Estado Novo” – que acabou por aluir já em muito mau estado. Votou no "senhor professor" vezes sem conta; gastou mais cem euros em telefonemas para o eleger – mas nunca percebeu porque lhe chamavam bota-de-elástico. Gostava de ir praia. Ver as “gajas” nuas, como gostava de dizer com um sorriso malicioso, era um dos poucos prazeres que concedia a si próprio desde que a sua falecida Alice se finou de ataque cardíaco durante um desses calores da menopausa.


Joshua Magellan

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