sexta-feira, 27 de julho de 2012



Nos meus lugares secretos

Há lugares secretos em todos os cantos do dia, na penumbra, sob a poeira da ventania. Fecham-se para não se saberem abertos. Só se abrem à voz do dono e raramente se revelam. Trabalham apagados para que a consciência não se aperceba das ideias esquerdas, com todas as janelas panorâmicas cerradas durante as horas de expediente. Trabalham dentro de si para renascer, para fazer nascer novos dias. Para se abrirem à luz. É bom deixar entrar a luz do dia, os olhares da vizinhança. É bom vê-los sair. É bom ver a noite a sós com alguém que nos diz... Cada casa tem o seu telhado de vidro, a sua pia abissal de águas bentas, o seu pacote de larachas de água e sal, o seu pão ázimo comprado com o que restou da dízima. Cada casa tem o seu lugar secreto, os seus lugares secretos, os seus recantos discretos ao fundo dos corredores iluminados. Cada casa tem a sua asa – se tivesse duas, voava. Claro que, as asas – para voarem –, teriam de possuir casas suficientemente fortes para suster o peso de um vôo. 


Joshua Magellan