quarta-feira, 30 de maio de 2012


Conta-me estórias

Finalmente (só porque não me apetece estórias de era uma vez, desta vez) um Sapo preparava-se para atravessar um rio a nado quando um Escorpião, de tom ligeiro e suave, o abordou: “Bom dia caro Sapo. Vai para a outra margem? Será que me podia levar nas suas costas? É que eu não sei nadar”. Ora o Sapo apressou-se a compensar a falta de celeridade motora com uma rapidez de raciocínio estonteante: “A fama dos Escorpiões precede-vos. Sei bem do que são capazes e não sou assim tão ingénuo. Não quero ser picado”. Mas o Escorpião, está bom de ver, não se deteve. Desempoeirou as armas de sedução massiva, vestiu a pele de cordeiro e apelou à lógica e ao raciocínio apurado do Sapo: “Eu nunca faria tal coisa caro Sapo, pois se o fizesse enquanto estava nas suas costas, morreria também afogado”. Perante tal argumento anti-falacioso o Sapo acedeu ao pedido do Escorpião. Tinha o Sapo dado não mais de quatro braçadas e já o Escorpião estava de espigão em riste, pronto a picar mortalmente o desgraçado. Enquanto os dois se preparavam para se afogarem, o Sapo, incrédulo com a ilógica atitude do Escorpião, pergunta: “Mas... Porquê? Assim também vais morrer”. E lá responde o Escorpião: “Porque é essa a minha natureza”. 


Bruno Vilão

Sem comentários: