quinta-feira, 24 de maio de 2012


BioOutro

Nessa biografia, sua veste se comprime feito lírios murchos pelo tempo. Você caminha pela sala, os quadros tortos e sinuosos, inertes perante a invalidez de sua rotina. O silêncio é absoluto e nada mais há de absurdo em sua fala, em seus atos e comprometimentos. O absurdo, ente que habita seu corpo infame, apresenta-lhe à sociedade como o cálculo do nada. O absurdo é o nada, pois não lhe cabe no sulco da alma a distinção entre erros e acertos. Maniqueísmos banais, ainda que suportes para o bom trato não lhe pertencem. A casa comporta odores libidinosos sangrados no vácuo; seja corpo, seja morada escura com quartos, sala, cozinha, banheiro, entrada. Você esqueceu o mistério mais vívido das palavras, a exemplo de morada. Sinta a rima, os morfemas, a sonoridade, a semântica, o eco, tal ser que se instala em aconchego nos braços da mulher amada, flor que brota do chão do quintal pronta para o vaso da sala, bilhete espalhado pelos cantos a cada distância afugentada, sino que toca no horário da mesa posta em noite calada. Viva este absurdo: florescer no outro, jardim do seu ser a cada instante amado.


Manuela Barreto (Brasil)

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