sexta-feira, 11 de novembro de 2011

OS CINCO SENTIDOS - VIVER COM TODOS... (VI)


O poder de um sentido

Estando os Cinco Sentidos reunidos em pessoa livre e consciente a pedido de uma voz activa, propunham-se deliberar em assembleia sobre qual dos sentidos deveria deter o poder sobre os outros.  Os opositores na candidatura à cadeira do poder sensorial digladiavam-se com bravura, esgrimindo desde os mais nobres aos mais baixos argumentos (em política importam os fins e não os meios). Todos realçavam a sua especial importância, o seu determinante papel na expressão do ser.

Foi então que a mesma voz (agora altiva) declarou aberta a sessão:

Na primeira fila estava logo a Audição, que bocejou e se estirou na cadeira como se tivesse ouvido o bater da hora da sesta.

O Paladar e o Olfacto, feitos um com o outro, segredavam e conspiravam entre pigarreares de garganta e fungares de nariz. Já tinham uma gizado uma estratégia para atingir o poder e poucas hipóteses teriam os outros, cada um por si, de conseguir força e engenho suficientes para derrotar estes dois em conluio. A língua inquieta dava voltas pela boca fechada a custo, detinha-se entre um palitar de dentes e uma última engraxadela no esmalte. Enquanto isto, a saliva ameaçava extravasar pelos cantos da boca e tombar em jorros de baba.

Logo a seu lado, a Visão, que observava pelo rabo do olho o comportamento da vizinhança – “nem chus, nem mus”. Os olhos estavam inquietos, giravam por toda a sala como um radar. Detinham-se no rosto espelhado, fixavam-se no esgar de escárnio afivelado na boca (que parecia exprimir o que o Paladar e Olfacto nos bastidores lhe ditavam). Depois mirava as orelhas, mas estas permaneciam imóveis, sempre em modo de escuta (ou não!?). Irrepreensíveis, como soldados montando zelosa guarda aos segredos que escutam e guardam num túmulo de silêncio. Tudo para que a boca não saiba, ou dará no trombone.

De repente, com ares de sábio, levantou-se da bancada o Tacto e disse: “ - tenho estado aqui a ouvir-vos, a tentar entender-vos, e das razões que cada um afirma retiro uma conclusão – pareço ser o único candidato à liderança dos sentidos, com condições e carisma para exercer esta nobre e responsável magistratura. Pois lembrem-se que estou por todo o lado e por/para isso disponho do maior órgão do corpo humano, a pele. Sem mim todos vós estaríeis perdidos, expostos aos raios solares abrasadores do verão e aos rigores dos frios e neves do inverno, aos banhos e alimentos gélidos ou escaldantes. O efeito dos elementos sobre a vossa carne ainda viva, por-vos-ia em trânsito acelerado para o outro mundo.”

Anos se passaram desde que o Tacto começou a governar os sentidos, por vezes surge uma revolta de um ou outro dos sentidos submetidos, algumas delas pensam ser revoluções com êxito, mas a breve prazo levam invariavelmente à loucura e ao desvario.


Joshua M.

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