sexta-feira, 28 de outubro de 2011


RAINHA DOS PRADOS

Podia ter-se escapado pelos caminhos secretos que só ela conhece. Podia tê-lo beijado como aprendera com as deusas. Podia mesmo ter-lhe soprado ao ouvido as palavras mágicas. Mas ela nada fez. Limitou-se a abrir-lhe os portões do seu santuário secreto, onde a água e a terra aguardam pelo fogo sagrado para se transformaram e subirem aos céus. Movida por um impulso da sua prória alma, deixou-o entrar sem nunca desviar o olhar. E uma deusa não se deixa olhar assim... Por qualquer razão sublime, permitiu-lhe o acesso aos mistérios do seu mundo, ainda antes do nascer do sol.
Ele regressou a casa, num descampado da vida, certo de mais uma vitória, de mais um desafio, sem o qual não consegue voltar a acordar.
Ela, que nunca tivera dúvidas quanto ao caminho a seguir, ao lugar por onde devia ir, naquela manhã hesitou. Numa manhã em que desejara existir para poder ser abraçada no abraço que ele lhe recusou.


Carmo Miranda Machado

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