quarta-feira, 26 de outubro de 2011

JOSÉ CARDOSO PIRES (São João do Peso, 2/10/1925 — Lisboa, 26/10/1998)


Olá, Zé!

Na pilha de livros que amontoo na cabeceira, encontrei ‘Lavagante’. Faz parte dos doze ou quinze que vou picando, em leitura cruzada. Substituo-os, de tempos a tempos.
Lembrei-me de te falar nisto, porque sei que nunca chegaste a conhecer ‘Lavagante’ nesta edição que Nelson de Matos preparou e que está na rua há pouco mais de um ano. Irias gostar, eu acho!

Na sessenta e três, onde abri, descreves a chegada da Primavera a Lisboa: a “luz macia”, o “azul fino e alegre”…  Todas as cidades tivessem alguém que fale delas como tu de Lisboa, Zé!  És doce e derretido, mas também triste e implacável, quando tem de ser. Mostras as feridas putrefactas que alimenta e (oh o ciúme...) não te cansas de alertar para os perigos do seu magnético canto de sereia, que tão bem conheces!
Quanto amor há nesse tom desassombrado, cru, sem elogios gordurosos. Na maneira como a olhas de frente, sem medo nem concessões ao que parece mais conveniente. É o que é e tu não foges disso!
Está tudo na tua escrita

Fui buscar ‘Alexandra Alpha’ e o ‘Delfim’. Há que tempos não os via.
Com que requinte trabalhas o texto! És cuidadoso com as palavras e não subestimas os efeitos do seu temperamento. Há ali tempo gasto a descascar ideias, a encadear frases. Não há fórmulas. Há frescura e novidade! Há trabalho!
Gosto como combates a vulgaridade e exiges inteligência na sua forma mais sublime, que é a sensibilidade! Quem não tiver, lê outra coisa!
És culto e interessante, mas passas despercebido, e o que eu gosto disso!
Que bem sabe ler esta escrita limpa e enxuta.

Que bem me está a saber redescobrir-te, Zé.

Obrigada!
Um abraço!


Iolanda Bárria

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