sexta-feira, 2 de setembro de 2011


Como ser uma bruxa de sucesso

Tranquei o meu inútil diploma num armário e transformei o escritório da minha casa num consultório. Arranjei uma velha mesa redonda que cobri com uma comprida toalha cor de sangue. Estudei as cores e escolhi as mais relaxantes para a restante decoração. Coloquei umas velas aqui e ali e também um pouco de incenso. Faltava-me escolher um método de adivinhação. Optei pelas runas que são um método muito antigo e relativamente pouco conhecido no ocidente. Além disso acho imensa piada às pedrinhas das runas. Estudei, com afinco, todas as maneiras de as interpretar. Arranjei também ervas medicinais, na sua maioria infusões, para os mais diversos efeitos. Li imenso sobre o assunto e aprendi a fazer misturas com grande mestria. As infusões ajudam e a fé faz o resto. Quando pressentisse problemas de saúde realmente graves, tentaria convencer os clientes a procurarem um médico. Falei com uma amiga que também estava desempregada e expliquei-lhe a ideia. Achou tudo um pouco maluco mas aceitou de imediato ser minha recepcionista. Fizemos panfletos e espalhámos pelas caixas de correio das redondezas e aguardámos. E assim, lentamente, começaram a aparecer os primeiros clientes. Na primeira vez, como em todas as primeiras vezes de tudo, estava nervosíssima. Correu bem. Com o passar do tempo fui perdendo o medo e ganhando confiança no que fazia. Não sou uma bruxa convencional, não adivinho, mas sou intuitiva e percebo de imediato o que angustia as pessoas. O segredo é conseguir, subtilmente, que revelem o maior número de detalhes sobre as suas vidas, medos e esperanças. Na maioria das ocasiões elas somente precisam de alguém que as oiça e lhes mostre caminhos e opções. Hoje em dia tenho uma clientela assídua que nunca iria a um psicólogo mas que vem até mim. Pontualmente, o remorso ainda me invade. Como bruxa sou uma farsa. Mas, não serão todas?
 
 
Missanga

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