terça-feira, 12 de julho de 2011

Palavras Versadas


bênção da pasta

o senhor ministro tem a bênção da pasta.
repito, o ministro tem a bênção da pasta
não lhe importa quanto gasta
não quer sequer que lhe digam quanto gasta
está-se a cagar para o que se cá gasta.
a regalia a mordomia principal não lhe basta
a principesca impunidade imoral não lhe basta
o autismo a esquizofrenia social não lhe basta
pois se a opulência ministerial não deve ser casta
gasta o que gasta
e pronto
e basta

o instituto da treta que asila o tio-avô influente e sisudo não basta
a filha subsidiadamente tonta e prolífera não basta
o filho pródigo galardoado com um salário chorudo não basta
a irmã de caridadezinha carnuda o cunhado cornudo não basta
o primo feito director administrador yes-man sim-senhor não basta
a assessoria que sustenta o amigo chico-expert não basta
a amiga artista iconoclasta da inefável praça tiesca insuflável não basta
o zelador de segredos compadre burgesso barrigudo não basta
o desfile de despesas ajudas de custo ao entrudo não basta
o prémio rechonchudo do habilidoso do guloso do jeitoso não basta
o criado mudo de língua cuidadosamente arquivada em formol não basta
o tecto que retribui o afecto da amante com periquito e cão não basta
a obrigação de retenção na fonte feita cumprir pelo mastodonte não basta
a teta de uma incomensurável vaca a greta aberta à faca não basta
a reforma daqui a reforma dali a outra reforma de acoli não basta
a casinha a casa o casarão do passarão o palácio do felácio a quinta
a sexta a sétima a seguinte não basta
o mercedes e as sedes
o bê eme e o delirium treme
o lexus e os sexus de insuspeitos conexos
o motorista de sua excelência orçamental que se despista
e derrapa nos multimilhões alcatroados da autopista
do carro o escarro que brutalmente nos atira à cara não basta
a bastonada cirúrgica e justificada pela soberana pancada
do taco número cinco para o par o birdie o eagle não basta
o country club elitista exclusivo para gente oca e rasca não basta
a conta na suíça que nenhum barbeiro consegue aparar não basta
a negociata o submarino a fragata o cruzeiro a regata não basta
o off-shore o off-limit o of course não basta
o fuck you very much não basta
o polvo é quem mais ordena não basta
o contribuinte transformado em pedinte não basta

o ministro tem a pasta do Que Se Fodam Todos
ei-lo excelência reverendíssimo senhor ministro dos engodos
usando e abusando da sua governação de inspiração pederasta
financiado pelo programa feder a torto e a direito
e por uns quantos amigos do partido do peito
que ao fim e ao cabo
para elogiar e limpar a ministerial trampa do rabo
dão sempre jeito

nada do tudo que tem e do tanto que rouba alguma vez lhe basta
e toda a decisão dialéctica de poupança se arrasta
e qualquer hipotética solução de mudança se arrasta
enquanto o país deriva e se afasta
enquanto o povo se criva e se priva e se enfrasca
enquanto ainda lhe dão crédito na tasca
(já que nos bancos só emprestam uma ferrugenta piasca)
enquanto a vida se atasca
enquanto o futuro se enrasca
porque o ministro detém, detém firme e hirta realmente a pasta
detém porque a sua experiência é relevante, impactante e vasta
detém apesar do esforço abnegado e sobrehumano que tanto o agasta
e afinal mudar é coisa que sempre acarreta uma consequência nefasta
e para nefasta
a realidade actual já basta

o penhor sinistro tem a bênção da pasta
a bênção é a roca que traz desde o berço maçónico em que nasceu
ou então foi depois alguém que lha opus deu
ou a grande puta que o pariu
ou outra qualquer que ele fodeu
mas qualquer das hipóteses perdura, não se desgasta.
depois, para compensar o que gasta
para recuperar o que nunca jamais em tempo algum lhe basta
o ministro é o primeiro
e segundo e terceiro
e quarto até se de seis estrelas houver
(pois que se recusa a deitar numa cama qualquer)
a executar ao povo a sua perdulária canastra
a aplicar cegamente a lei seca com que a justiça vergasta
a leiloar tudo o que se assemelhe a humanidade em hasta

hasta quando?
hasta siempre comandante,
hasta


Bill enGates

1 comentário:

Bruno Silva disse...

A Casa do Alentejo (Rossio, Lisboa) acolhe pela 2ª vez as CURTAS E VINHO VERDE

Queremos encher a Casa de curtas. Serão 2 noites de convívio, sem fins lucrativos, com o objectivo de mostrar o que se faz no nosso pais (e não só...), tanto a nível de filmes académicos como de trabalhos de produtoras independentes. A mostra irá decorrer em Setembro e as inscrições estão abertas até ao final de Agosto. Enviem os trabalhos para:

CASA DO ALENTEJO
A\C Ricardo Leal
Rua das Portas de Santo Antão, nº58
1150 Lisboa


Toda a informação está disponivel no site http://www.curtasvinhoverde.com