sexta-feira, 3 de junho de 2011


Um beijo que poderia ter sido aquele

Creio que nunca nos beijámos!? ou, será que nos beijámos!? Ou, terá sido aquele um momento mudo em que o mundo parou para assistir ao filme que passava nos nossos corações abertos e fechados em nós, sempre alheios e outro mundo. A nossa vida, sem guião, estava lá toda, lá onde se projectava a nossa vida, a vida de dois amantes impossíveis amando-se numa tela de cinema onde habitavam como sombras de afectos. Ao fechar os olhos, no âmago desse beijo (sim, a mim ainda me parece que foi um beijo, um simples beijo, mas um beijo), vi o mundo transbordar de tudo o que dávamos sem dar, de tudo o que sabíamos sem saber, do nada que somos ao tudo o que queríamos ser. E sonhámos, sonhámos tanto, ficámos até tão tarde pelo sonho que um dia podíamos viver, que continuo a jurar que os nossos lábios sedentos se tocaram, que as nossas mãos prementes se enlaçaram, que os teus dedos adocicados percorreram os meus cabelos, desfiando breves afectos.

A nossa viagem foi tão curta, quando corremos à velocidade do que queríamos que nunca acabasse, que nos pareceu viver a vertigem de uma queda bruta sobre a realidade da chegada.

Ah quem me dera nunca chegar e estar sempre entre ti e a partida para uma outra viagem; quem me dera que a viagem fosse em ti a partida e a chegada, uma viagem apenas viagem. Uma ida e volta guiada por um fio de Ariadne que seguíssemos continuamente até ao fim do labirinto que somos, em que a saída fosse apenas o reencontro depois do nosso encontro. E no final do nosso beijo, apenas um rumor, um leve sopro ao teu ouvido para te dizer tudo aquilo de que duvidamos e temos certeza de que nunca foi como gostaríamos que fosse. Sabes, creio que um dia nos beijámos. Creio que ainda sinto nos meus lábios, lá ao longe, a brisa de um beijo dado naquela varanda para a noite, para essa noite em que nos beijámos. E assim, sem palavras, nos despedimos com um beijo que poderia ter sido...


Joshua M.

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