terça-feira, 21 de junho de 2011

Palavras Versadas


época dos incêndios

secretamente, cada mulher anseia
pela sensação do fogo
: acende um filho enquanto espera,
depois outro, talvez
outro ainda, como fósforos
numa caixa maternal de pólvora

deito a cabeça junto ao teu hálito de rescaldo
adivinho que viajes nas estrelas e noutras combustões grandiosas
que nunca partiram pernas ou racharam a cabeça
nunca choraram nem sangraram nem pingaram ranho
nem sentiram fome ou sede
e seguramente nunca tiveram medo do escuro

a noite arde devagarinho
a vida segue o seu curso de rastilho vagaroso
o vento do coração
incendeia vagarosamente a origem do vento
projecta sombras na parede de gasolina
que se amam até à extinção


Renato Cardoso

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