terça-feira, 29 de março de 2011

Palavras Versadas


como se o poema fosse órfão

o pai disse nunca mais te quero ver.
antes, talvez seja importante referir que o pai tinha uma faca,
uma dor metálica à vista.
o pai disse filho, nunca mais te quero ver.
o pai brandiu os olhos fechados com a faca aberta.
o pai cerrou os olhos com palavras brancas como armas quando
disse filho, não quero ver-te mais.
depois o pai vergou-se sobre a cegueira acabada de inventar.
o pai ajoelhou-se sobre as pontes antigas do coração ausente,
inaugurou os ossos da solidão.
o pai cortou os rios dos olhos. chorou. repetiu nunca mais te
quero ver, filho.
o pai chorou convulsivamente por conseguir ver longe de mais
a proximidade do sacrifício.
o pai cortou o filho ao meio com o gume da voz, em várias metades
iguais, equitativamente distantes.
equitativamente tristes. e sós. nunca mais. dois
pesadelos dilacerantes.
o pai sobrou inteiro a contar do filho em diante cortado. ou
partido. que não iria ver mais.
o filho partido julgou cicatrizar em possibilidades infinitas.
reaprendeu o coração em terras distantes.
mas nunca mais teve olhos. nunca mais
foi pai


Bill enGates

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