domingo, 6 de março de 2011

1º ANIVERSÁRIO D'"O FILÓSOFO E O FANFARRÃO" - Crónica Benzodiazepina (II)


Um dia em cheio

22 horas e 33 minutos. Encontro marcado comigo própria. Fecho a porta da rua atrás de mim e arrasto-me até ao portátil que, amorfo, aguarda estupidamente quieto na mesa da cozinha. Espera, creio eu, que alguém lhe dê uso. Aqui estou. Atrás de mim um dia repleto de cansaço e desafios. Um dia em cheio. Quando temos um dia assim, em que as horas escasseiam face às tarefas que nos propomos realizar, fica tão pouco por dizer. Mudei de vida, de ice tea, de casa. À minha frente uma lagoa imensa se abre em segredos profundos. Mas, estou demasiadamente cansada para mergulhar, fico ali, parada, a borboletear serena e despreocupada. A lagoa está ali há centenas de anos, não vai desaparecer com os seus segredos mil já amanhã, eu provavelmente também não. Ficamos então assim... com a sensação de que se partilha um namoro infantil, inquietante e excitante. Nunca tinha sentido isto com uma lagoa. Com pessoas, animais, até doces, sim. Aquela sensação de tesouro guardado que nos espera... mas com uma lagoa é realmente a primeira vez. Conto as horas até voltar a vê-la. Visito-a várias vezes ao dia, contribuindo de cada vez, para que num futuro, o mais próximo possível, possa permanentemente ficar ao seu lado. Quem me conhece e partilha esta minha outra vida, mais citadina, fica preocupado. Não compreende esta atracção. A minha estrada encontrou uma curva, eu limito-me a percorrê-la. Quando o caminho nos conduz, é assim, não vale a pena evitá-lo. Afinal, não é o barco que faz a onda, é o barco que se faz à onda. A minha vida faz-se à curva e sente prazer nisso.


Lucinda Gray

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