sexta-feira, 4 de março de 2011

1º ANIVERSÁRIO D'"O FILÓSOFO E O FANFARRÃO" (IV)


Jardim do Éden

Podia escrever um livro numa noite, se quisesse, mas não saberia o que dizer. Podia chegar ao fim de uma frase e repeti-la e repeti-la e repeti-la, até fazer sentido. E ao amanhecer, exausto, adormeceria sobre as folhas riscadas e concluiria como todo o meu esforço havia sido inútil, porque os livros não fazem qualquer sentido. Escrever é uma pura perda de tempo, para quem quer viver. Passamos a vida a viver exibicionistas, frequentamos os cantos obscuros dos jardins sociais, envergando uma gabardine que abrimos para exibir as nossas impudícies e nos masturbarmos para uma velhinha, que no final nos agradece, contente por ter tido uma visão rara. Entre tantas exibições, um dia passa mesmo a mulher dos nossos sonhos, a mulher que chama a polícia para sermos levados de mãos algemadas e presos à vida que nunca quisemos viver escondida. Cumprimos a nossa pena e saímos refeitos do cansaço de nos exibirmos todos os dias no mesmo jardim.

Um dia somos nós que estamos sentados num banco de jardim e é a mesma (agradecida) velhinha que nos vem importunar, descobrindo o seu corpo e exibindo indecências num abrir de gabardine. E assim se completa o círculo; e assim ficamos com a certeza de que queremos um dia chegar a velhos. Os relógios batem tão apressados, tão certos da nossa hora...


Joshua M.

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