quarta-feira, 2 de março de 2011

1º ANIVERSÁRIO D'"O FILÓSOFO E O FANFARRÃO" (II)


O desterrado

O corpo nada faz; existe, porque a mente assim o quis. Adoece, porque a mente, assustada com a sua própria decisão, vestiu a carne que pensou e dessa forma se fez doente no exterior.

Apaixonada pela escultura, a mente que se julgava separada acabou por se confundir com ela. A paixão foi tão avassaladora que os olhos da pedra começaram a ver e a rocha se fez porosa para que o ar pudesse entrar. De tanto a mente acreditar, a figura branca e rochosa começou a mexer-se, qual títere, cortando os fios que a uniam à criadora: os pensamentos abandonaram a sua fonte e decidiram parir-se a si próprios. A mente ficou abandonada, a sonhar com um corpo que sem dono vai aos tropeções. Triste e cansada, a mente que agora pensa ser um corpo, senta-se para meditar, à procura da leveza que outrora foi. Sou um corpo pensante - conclui, extrapolando a partir do erro de percepção, invertendo a lógica, dando ao denso a capacidade de gerar o subtil. O pensamento que se julga matéria concluiu em defesa da obra própria, que foi a matéria quem pensou a leveza de si, devolvendo o pensamento ao corpo que verdadeiramente nunca existiu...

O corpo nada faz; existe, porque a mente assim o quis. Adoece porque a mente, assustada com a sua própria decisão, vestiu a carne que pensou e dessa forma se fez doente no exterior.


DuArte

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