quinta-feira, 13 de janeiro de 2011


Pintado de Fresco

Eis que, completamente perdida, ela olha em volta para o imenso desenho.
Levou uma vida a tentar: escrevinhou ideias e mais ideias; tentativas sempre abandonadas de verdade; porque uma vírgula, uma nota, uma sombra constante da sua inconstância, a impediam de ser simplesmente quem era.
Nada permanecia naquele interminável esboço, por mais vincado que fosse o traço. Nada. Nem os outros, nem a fuga escolhida para a escassez da arte, ficavam o tempo necessário. Escritos e apagados ao gosto da paixão; nunca além de um orgasmo fugaz desenhado a grafite.
O papel de fundo, outrora de um branco imaculado, está translúcido e rugoso. Ameaça rasgar-se a cada nova passagem de safa.
Encurralada pela tirania do tempo, ela tenta mais um risco. Mais uma nuance de espaço. Mais uma hesitação.

Frágil e cansado, o papel desfaz-se,
e ela,
e o sonho.


DuArte

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