terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Palavras Versadas


poema do futuro

no futuro já será possível abraçar-te contra o vento
comboios de fulminante velocidade os braços, partir
será como adormecer, levar-me-ás dessa noite onde
se houver pérolas serás a primeira a saber, porque
anjos enferrujados e míopes ajoelhar-se-ão na labuta
das sementeiras cantantes na circunferência do pescoço.
no futuro o verbo amar conjugará botões sincronizáveis
e acreditando nisto saberás que nas florestas à janela
haverá cidades envergonhadas, o amontoado da sombra
fugaz das borboletas arranhará o céu. no futuro poderás
beber o acordeão dos desertos sem que a doce música
seque jamais. o amor será simples nas mercearias da
galáxia. na tua rua a dona roubar-te-á uns duzentos gramas
no capricho da balança. pedirás fiado e que embrulhem
em papel pardo. as crianças trarão no bolso um telescópio
que recicla o medo da distância, um porta-chaves negro
da cartografia da alma e um voucher de luz. no futuro
os bêbados e as prostitutas descobrirão novos planetas
nas palavras cruzadas de indiferença. esperaremos pelo
salvador nas paragens de autocarro não mais que vinte
minutos. escrever-me-ás uma carta a pedir permissão
de cada vez que te apeteça mudar de estação. no futuro
deixará de haver quem sonhe com o passado, haverá
estâncias termais especialidades médicas comprimidos
para enxaquecas de felicidade. dormiremos sobre agulhas
um formigueiro de vertigens alimentará as descobertas
como uma central nuclear onde se funde o impossível.
no futuro não haverá camas nem traições nem desespero
dormente. o vício ficará reduzido à combustão dos violinos
no interior da cabeça. extinguir-se-á o corpo para além do
silêncio. no futuro haverá apenas um final que se prolonga
nos lábios. e o tempo calado depois...


Bill enGates

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