sábado, 15 de janeiro de 2011

Crónica Benzodiazepina

Inquietação Hedonista

Venho do fundo da minha simplicidade, pouco mais sei que aprender, e o que aprendi sobre o prazer não passa de uma palavra a seguir à outra, organizadas num caos de ideias que só pode ser sentido sem ser escrito. Eles sim, os filósofos e os sages, sabem e falam, do Prazer tout court, dos Prazeres sensíveis e dos Prazeres inteligíveis, dos que se podem apreender com a carne em chamas ou com o espírito vivo. Eu nunca os entendi e nunca senti aqueles prazeres que me apontam, ou se tomam em pílulas como medicinas. Toda a minha vida procurei a “essência do Prazer” e nunca a encontrei: duvidei da sua existência, dissequei inúmeras noções de Prazer, tentei defini-lo previamente, delimitá-lo a posteriori, consultei sábios empíricos, vasculhei em canhanhos e dicionários e computadores, inchados de informação vária e plenos de certezas. Mas, em vão, estes apenas me perguntavam se alguma vez vez me tinha sentido satisfeito; somente me interrogavam sobre se alguma vez as minhas tendências ou necessidades haviam sido confirmadas ou saciadas; ou me inquiriam se havia exercido harmoniosa ou parcimoniasamente as minhas mais elementares actividades vitais.
Era tão difuso quanto abrangente, o objecto que me propunha – conhecer a sua alma –, assim dificilmente o poderia definir ou delimitar como o fazem os sapientes, e, em resultado, impossivelmente poderia aceitar o que eles me ensinavam. Pensei numa visão economicista do Prazer, mas nele não há escravatura nem trabalho assalariado, isso são cadeias que resultam de imposições da mente. O Prazer não é um valor, não é capitalista, nem se guarda em caixas de aço herméticas e seguras de banco; não se contabiliza em cifrões, nem se compra, nem está à venda – é sempre dádiva e não tem forma.
O Prazer nunca casou, nunca teve par, nunca viveu ao lado das sensações ou dos afectos, ou das tendências, ou das necessidades, é um órfão sem pai nem mãe nem irmãos e nunca o sentimos, senão no momento em que não existe, porque ele apenas existe numa quimera que também não existe. A carne nunca soube o real sabor do Prazer e o espírito tampouco, porque o Prazer é como um vírus mutante, inteligente e indetectável, que se escapa com a vida que nos leva, mesmo sob a visão graduada do atento microscópio dos alquimistas.


Joshua M.

Sem comentários: