sexta-feira, 24 de dezembro de 2010


deus não existe sozinho

Nunca somos só Um, aquém do queremos crer; nunca somos mais do que Um, senão quando somos além-ser. Somos sempre o todo, só por acaso nos parecemos com Um, que é um Um qualquer. Somos identidade X ou Y ou Z e somos nós, por nos sabermos e os outros saberem que somos nós. E ai de quem que não saiba! Acaba sendo mais Um, aprisionado na teia de ignorar que é Um deles, Um dos que com ele próprio coabita.

É dessa teia que vos quero falar:

Um dia estava fehado no quarto, só, completamente só, porque a minha mãe me havia dito que estava só. Tinha sete anos, estava fechado à chave por dentro, com medo de estar por fora e por dentro. Inquiri a sapiência materna, perguntei se ela também estava só e ela dissse que sim; e que a minha irmã também estava só (ali connosco). E ali estávamos os três sós, todos juntos. Havia guerra, havia tiros, era natal. O homem grande da família estava de serviço no quartel. Por isso, ela dizia que era uma pena estarmos sós, porque faltava Um de Nós. Nunca fui bom em aritméticas sociais, mas para mim estávamos sempre todos, mesmo que faltasse Um de nós. Por vezes, poderia parecer que resultávamos imcompletos quando Um de nós estava só, separado dos outros, ou quando estávamos todos e nos faltava só Um que fosse. Afinal, estávamos aparentemente sós. Mas, depois reparávamos que, estando todos ou faltando Um de nós, o nosso Um só fazia sentido se aferido pelo todo. Só poderíamos ser, sendo cada Um de nós,  Um pelo(s) Outro(s).

Assim continuámos a ser: ainda que Um de nós não estivesse ele estava em nós através de cada Um de nós, isto porque não é nem nunca foi Um só, mas apenas Um pouco (mais ou menos) de cada Um de nós. E, por isso mesmo, apenas sentimos poder ser só Um enquanto somos todos e cada Um de nós; enquanto somos cada Um de nós e todos, – porque mesmo quando falta Um de nós estamos todos, por isso nunca Um de nós está só, Um sem o Outro, e estamos sempre todos. Esta foi a minha primeira ideia da Comunidade.


Joshua M.

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