sexta-feira, 26 de novembro de 2010


A Primeira Ilusão

Ficamos ainda mais pequenos do que somos, nessas alturas. Ficamos lá no fundo ao olharmos para o topo do mundo que nos roubaram, sem sabermos se é o vazio que vai preencher o lugar de tudo o que perdemos. “Vou morar para outra terra!”, foi a última coisa que a L. me disse, alguns segundos antes de partir e uns minutos depois de me beijar. E fiquei do tamanho de um grão, uma ínfima semente incapaz de sentir de novo a dor de fazer brotar e crescer uma nova afeição. É sempre assim a dor da separação, quando tememos que seja a última.

Gostava das suas mãos, elas lembravam-me as mãos que traziam os carinhos perdidos nas horas de que não podemos prescindir. Agora já não sei se gosto, mas tenho a certeza de que gostava delas naquele momento. Estou cá há tantos desgostos... Foi há tanto e tanto tempo, que nem compreendo porque me estou a lembrar disto agora, – ela tinha sete anos feitos naquele dia, eu tinha sete anos e mais alguns meses. Ainda não sabíamos que o afecto se escrevia de tantas maneiras.


Joshua M.

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