sábado, 6 de novembro de 2010

Crónica Benzodiazepina


Serotonina

Bem, hoje é mais um daqueles domingos em que gosto de me sentir inútil (e faço por isso) sem aquela terrível sensação de vazio que me habituei a usar. Felizmente, essa sensação fica-me já apertada e agora já não me sinto mal ao acordar e já não me incomoda não apetecer fazer nada e já não me irrita que os outros me tentem perturbar. Consegui, portanto, alcançar aquele estado em que pouco ou nada ou quase ninguém atravessa o meu portão para me incomodar. Não pensem que foi fácil chegar aqui. Foi um longo trilho, íngreme e irregular, ao longo do qual tropecei, cai, levantei-me, voltei a cair e, aos trambolhões vim, até chegar aqui.

Parece que me faltava serotonina. Sentia-me sempre a peça fora do puzzle. Acordava e não percebia porquê nem para quê. Pura e simplesmente não encaixava. A tristeza andava por ali, sempre à espreita. Vazia. Depois as drogas. Como descreve Extebarría: "Os comprimidos para dormir são redondos, pequenos e azuis e os comprimidos para despertar são brancos e ainda mais pequenos, e os comprimidos para uma pessoa se manter feliz são cápsulas brancas e verdes, e há outras cápsulas vermelhas que tiram todas as dores, e uns comprimidinhos brancos que fazem desaparecer a ansiedade." (in a.c.p.d.)

Hoje estou "clean". Até da pílula me livrei. E procuro o que defino com os 3 P ("pês") da minha vida: Paz / Parar / Praia /. Até chega a parecer fútil, não é?


Carmo Miranda Machado

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