quinta-feira, 19 de agosto de 2010


Todos somos semente

À semelhança da semente, sentimo-nos por vezes protegidos pela carapaça forte que nos envolve e pelo calor do subsolo que nos protege. É a nossa zona de conforto. É tão difícil romper com ela quanto o é para a semente rasgar a sua carapaça e, através de frágeis caules, abrir canais por entre pedras e torrões de terra rumo à claridade, mas também rumo ao vento, à chuva e aos pés dos transeuntes. Em cada um de nós, há uma potência a realizar em acto, como em cada semente há uma flor em potência. Esta concretização significa a realização do nosso ser, o nosso cumprimento. A concretização plena das nossas capacidades. Potência e acto. Agir fora da zona de conforto significa também experimentar a dor. Deixá-la entrar, assumi-la, para que ela possa cedo partir. Significa sentir receio, verdadeiramente medo e incerteza. É o duvidar de nós. A superação dessa dúvida existencial pode fazer-se com pequenas, mas recompensadoras conquistas, por vezes diárias. É um teste à nossa humildade e à nossa paciência. Somos sempre um projecto do que viremos a ser - em potência somos tudo, em acto somos apenas uma parte.
A paciência deve ser uma das virtudes mais difíceis de gerir. Em excesso, torna-se defeito, porque nos remete para a não-acção. A gestão desse equilíbrio não é fácil, porque tudo tem um tempo próprio, mas essa adequação não nos pode ser dada por nada, nem por ninguém, que não nós próprios. Só cada um de nós poderá ditar o “timing” correcto para agir num determinado sentido, ou noutro. Cada flor faz o seu caminho e a primeira escolha a fazer, ou não, é brotar. Se quiseres caminhar sobre as águas, primeiro tens que sair do bote.


Lucinda Gray

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