quarta-feira, 11 de agosto de 2010


A Senhora Isotta

Mas não perdera a calma. Ainda. Sim, pensara ela, porque vou livrar-me desta custe o que custar. Agora eu cá mostrar as minhas partes pudibundas, isso está fora de questão. Deitou então os olhos à praia e um mar de gente polvilhava-se pela areia. Procurara o fato de banho nas imediações. Nada. Uns jovens ariscos banhavam-se a uns metros e a Srª. Isotta não tardou a adivinhar dificuldades acrescidas. Psicótica e calórica, a pobre senhora, apesar de determinada no seu propósito, não lograra nenhum estratagema infalível que a fizesse escapulir com a sua moral ilesa. Dera conta que começara a chover e o mar de gente que antes se espraiava frivolamente indiferente ao seu cataclismo pessoal batia nesse momento em retirada. Esperou como cão fiel pelo seu dono. O espanto caíra-lhe à cara quando se apercebeu então de uma multidão louca a correr mais ou menos na sua direcção. Uns homens fardados, umas bóias vermelhas que pareciam familiares, uns tantos olhos curiosos e metediços despontavam como hienas esfaimadas naquela precisa hora. Lembrara-se. A sua prima, a Srª. Henriqueta, com quem fora à praia, dera conta da sua falta e alertara as autoridades. Ainda crente na sua salvação apoteótica, torneou o pescoço em busca do seu triste farrapo que a abandonara já há mais de uma hora. Nada. Viu-se num beco com uma saída que não queria: caminhar para a areia em direcção à sua toalha e, dessa vez, perante algumas dezenas de olhares aturdidos na certa. Triunfante, psicótica e calórica, renitente mas não contente, a Srª. Isotta saiu da água salgada e enfrentou o inimigo. Estupefacta, a Srª. Henriqueta perguntou-lhe: Então numa praia de nudistas tens vergonha de aparecer como vieste ao mundo?!?!?


Berenice Greco

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