quarta-feira, 14 de julho de 2010

SETE DIAS SETE PECADOS - A IRA (I)


Os Dias da Ira

Lembrava-se de forma um pouco atabalhoada o que acontecera momentos antes. Encontrava-se com uns amigos no Pub de Donahue. Os ânimos não estavam grande coisa, mas havia umas miúdas giras ao balcão com as quais talvez pudesse ter sorte. Sabia que no outro dia Claire não tinha ficado satisfeita quando fizeram sexo. Sentiu a falsidade dos seus gemidos ditados para o tranquilizar, ou pior, para o fazer parar. Mas acreditava ser um problema dela, não seu. Achava-se tonificado e forte e nunca nenhuma miúda se havia queixado… nem mesmo Claire.
Deambulava por esses pensamentos como quem navega pelo mar morto e eis que avista ao balcão do “seu” Pub um estrangeiro com a pele cor de mel, olhos brilhantes. - Mas quem é aquele gajo ali ao balcão? Sim... Aquele black, o que está ao lado daquelas miúdas!? – Perguntou aos amigos, cujos olhares recaíram todos sobre o intruso.
A cabeça não parava de rodar e como quem rumina erva amarga constatava em silêncio que o gajo era todo jeitoso. Raios! Eu que até sou um garanhão sinto o meu sexo remexer-se quando o vejo. Sabia que se Claire o visse agora iria mirá-lo, iria comê-lo com os olhos. Tinha a certeza. Ainda por cima esses escurinhos têm fama de serem bons na cama. Se esses tipos fossem para as suas terras era um descanso.
- Olhem! O gajo está a rir-se para as nossas miúdas... Vais pagá-las! Não sabes o que te espera, cabrão... Vais acordar no inferno!

As luzes da ambulância ajudavam a visualizar o chão que aos tombos percorria apressadamente. O que vale é que a casa não é longe e Claire estará lá para ajudar a limpar o sangue das suas mãos e da sua roupa. O filho da mãe sujou-me todo - dizia para com os seus botões. Claire abriu-lhe a porta e olhou-o com horror e desprezo e soltou: – Outra vez, um dia a tua violência ainda te mata!  Desvairado ele, solta em tom de ameaça: - Que queres tu mulher? A culpa foi toda tua! Cabra!

A cinco mil quilómetros do Pub de Donahue, Dolores não queria crer no que ouvia. O seu menino encontrava-se em estado crítico no hospital de Harlington. À medida que as palavras eram proferidas do outro lado do telefone, deixou de perceber qual a cadência do seu próprio ritmo cardíaco e uma substância liquída e fria foi lhe subindo pelo corpo começando pelos dedos dos pés até lhe afogar o olhar. Não sentia o seu próprio corpo. Tudo era uma dor que nem doía, e um escuro forte e potente que aniquilava qualquer lei da física. Sentia-se com uma força inexplicável e uma clarividência absoluta. Largou tudo e saiu em silêncio.

Alguns dias depois, os tablóides noticiam que um homem fora encontrado morto no chão do seu apartamento. As suas entranhas tinham sido comidas pela assassina, uma mulher latina de cerca de cinquenta anos, que ficou sentada ao lado do corpo até a polícia chegar. Este era o homicídio mais bizarro dos últimos cinquenta anos ocorrido na pequena cidade de Darkstone.


Lucinda Gray

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