sexta-feira, 11 de junho de 2010

SEMANA DO EROTISMO V


Vulto Convertido

Deitada sobre a erva, sou terra em comunhão com a vida, terra bruta e humana à espera de ser rasgada e fecundada, leito e regaço onde cada semente germina para fazer brotar flores de renovados desejos. E o meu sonho é toda a realidade plausível: sonho-me envolta na neblina e numa nesga mínima de pudor, quase pública, quase completamente despida, nua até ao mais íntimo do meu ser. Sou eu, sem qualquer embaraço. Sou eu despojada da vontade – a mesma vontade que com prazer te entreguei para me libertares do corpo, para me fazeres sentir livre presa a ti numa comunhão de infindáveis desejos.
Sonho-te a sorrir, tu estás aqui, sempre a meu lado – o vento traz a tua sombra mascarada num tornado e bailas em redor de mim. És loucura em carne, és rodopio e catarse, vulto fugaz que se some nos fios de chuva – ténue fio de memória que se escoa… Estás aqui, breve, sempre breve, para me fustigar a ânsia do corpo e a memória, sinto o odor das tuas explosões pressentidas, sinto o teu Vulto Convertido à minha fantasia. Agonizo em desejos e abro-me ao calor, abro mais as pernas e toco-me, ofereço-me e ofereço a visão dos meus lábios grossos corados de desejo, a minha fenda aberta ao teu vigor, à certeza erecta do teu voluptuoso castigo.
Cerro os olhos para te sentir real entrar em mim e sinto a tua força a submeter-me; e peço-te que me invadas e me entregues – a quem tu quiseres, suplico-te. Voo alto sobre a fantasia e sinto-me nuvem. Tu és céu, estás em todo o lado e tens sete cabeças, sete corpos de fauno. Eu levito emboscada em mim, rodeada de criaturas: todas têm a tua cara, o teu olhar, a tua carne, e a tua espada enristada, gume afiado para me dilacerar a pele de prazer.
Eles banham-se nos meus fluidos soltos em correntes; eu encharco-me nas suas delícias e sorvo o néctar dos seus beijos, cada vez mais profundamente. Sou forçada até às entranhas, até recurvar a cabeça num esgar de prazer, até beber a chuva que se abate tépida sobre mim em brasa. Um sobre o outro, vou vencendo a todos, caída no êxtase de cada investida, repetida até à exaustão da minha volúpia. Sou tua, sou deles, sou rodopio furacão sobre as ervas à velocidade ultra-sónica da terra que abraço. Sou, até me envolver carne na tua carne amálgama, até sermos um só, único, todos num só esparramados sobre as ervas.
As minhas mãos sem as tuas são ainda sempre poucas para me encher, faltam-me os teus braços para me limitar inteira, o teu calor para me abraçar. A tua falta é a saudade que deixa o meu corpo a imaginar, a sentir as tuas mãos e as minhas a contar os espaços vazios. Sinto-te tocando-me, só me posso tocar para te sentir. Sinto os teus braços através dos meus, desencontrados, anelando a dimensão dos nossos corpos – dos nossos corpos insanos – frágeis e prementes. No cúmulo do arco-íris sinto o sol a queimar-me o corpo, os corpúsculos de luz a invadir a pele, a chuva a inundar a mente e todos os fluidos a sitiar o corpo – a minha fenda cada vez mais gruta húmida. Abatida a torrente celeste ergue-se um cheiro ao húmus da terra, à terra ávida e remexida. Toco-me mais freneticamente e a humidade latente no imo de mim ameaça desabar copiosamente, deixando persistentes nos meus dedos, os sabores com que, só, tu me deixas, quando os levo à boca e os trago, sôfrega de mim por não te ter a ti, sinto o teu gosto a longe no meu desejo. E, lá no fundo, só me resta este sabor a ti…

Joshua M.

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